João, no seu Evangelho, capítulo 13, mostra-nos que Jesus, naquela noite de terror, depois da Ceia com os discípulos e de ter-lhes lavado os pés, ficou interiormente perturbado, pois sentia que a hora da sua morte estava chegando. “Depois de dizer isso, Jesus ficou interiormente perturbado e falou: “Em verdade, eu vos digo: um de vós me entregará” […]. Desconcertados, os discípulos olham uns para os outros, pois não sabiam de quem estava falando. Por solicitação de Pedro, o discípulo que Jesus amava pergunta ao Mestre quem seria o traidor! Jesus respondeu: “É aquele a quem eu der um pedaço de pão passado no molho”. Então, Jesus molhou o pedaço de pão e o deu a Judas. E satanás entrou no seu coração, por completo. E Jesus lhe disse: O que tens a fazer faze-o logo” (Jo.13,21-27).
Mais tarde, mergulhados num clima de tensão, Jesus e seus discípulos foram para o outro lado da torrente do Cedron, para o Jardim das Oliveiras, ou Getsêmani, como costumavam fazer. Ali a traição foi consumada, Judas chega com os soldados, resultado do seu negócio com as autoridades (Ele havia vendido o Mestre por trinta moedas de prata). Jesus é preso de modo desumano e dali segue como Cordeiro mudo para a mão dos seus algozes e torturadores.
Depois de passar por Anás e Caifás Jesus chega ao pretório, à Torre Antonia, ou palácio residencial de Pilatos, naqueles dias da festa da páscoa dos judeus. Ali o Senhor recebe, injustamente, sua sentença de morte, e morte de cruz. E segue, no meio de uma multidão enfurecida, ávida por espetáculos de sangue, rumo ao Gólgota, traçando, no coração de Jerusalém, o seu caminho de dor, sua via dolorosa. Chega ao Calvário, ao Lugar da caveira e alí, como parte do espetáculo, Jesus é crucificado, e logo mais, depois dos escárnios e zombarias, ele disse “Está consumado. E inclinando a cabeça, entregou o espírito” (Jo. 19,30b).
A cruz de Jesus é também a nossa cruz, o caminho natural dos discípulos do Senhor. Assim como o Mestre foi odiado pelo mundo, também os seus discípulos, de ontem, como de hoje, também o somos, porque também somos consagrados ao Pai e separados do mundo. Não somos do mundo e, por isso, o mundo nos odeia (cf. Jo 15, 19). Mas temos certeza da vitória de Cristo sobre o poder do mundo, através da sua cruz. E nessa vitória seremos também nós vitoriosos.
Na cruz Jesus responde ao Pai livremente, oferecendo sua vida como dom, como resposta amorosa: “ninguém me arrebata (a vida), mas eu a dou livremente” (Jo 10, 18). Na cruz o Filho responde ao amor do Pai para a nossa salvação: “pois Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho único, para que todo o que nEle crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16).
Ela é lugar da revelação do amor de Deus. “É preciso que o Filho do Homem seja elevado” (Jo 12, 34), nos braços da cruz e aí manifeste a grandeza do seu amor por nós. Amor não somente do Filho, mas igualmente do Pai que mandou o Filho por amor.
Assim também nós, discípulos de Cristo, devemos tomar a nossa cruz de cada dia e seguir o nosso Mestre. A cruz para nós não é maldição, mas sinal de entrega amorosa, de participação na cruz redentora do Senhor. A cruz torna-se insuportável, somente, quando ela é carregada de mau humor, quando não é abraçada de coração! Sigamos o Mestre até ao Calvário para podermos também participar da sua glória!